Eventos climáticos extremos e potenciais riscos: uma reflexão sobre as barragens do córrego da Lagoa
Osmar da Rosa Rabelo – Major R1 QCO
O aumento da frequência de eventos climáticos extremos verificado nos últimos anos no Brasil, principalmente chuvas de grande intensidade, como as que atingiram os Estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro, o litoral norte de São Paulo e atualmente o Rio Grande do Sul, resultaram em grandes prejuízos. Principalmente em áreas urbanas, tem sido necessário o emprego de um grande contingente de pessoal e material especializado em catástrofes de grandes proporções, em especial Bombeiros, Forças Armadas, Defesa Civil etc.
O município de Campinas apresenta recorrentes inundações de pequenas proporções em áreas urbanas, principalmente em regiões próximas aos rios Atibaia, Capivari e seus afluentes, como os ribeirões Anhumas e Piçarrão, e os córregos Serafim e Proença, além do ribeirão Quilombo, que demandam investimentos de prevenção e políticas públicas, a fim de evitar prejuízos materiais e perdas de vidas humanas. Contudo, eventos climáticos extremos poderiam causar danos ainda maiores e demandariam políticas públicas específicas, a fim de mitigar os impactos causados, por exemplo, com o rompimento de barragens.
No dia 16 de fevereiro de 2003, uma chuva de excepcional intensidade, com índices pluviométricos de 100 mm em 120 minutos, causou a destruição de barragens, pontes, desabrigou 51 famílias e provocou deslizamentos, além três mortes nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio. Esse fato levantou um alerta sobre a situação das barragens no município de Campinas e o Departamento de Água e Energia do Estado de São Paulo (DAEE) passou a notificar os proprietários e a exigir a regularização das barragens no município. Posteriormente, com o rompimento das barragens de Mariana – maior tragédia ambiental do Brasil, em 2015 – e Brumadinho, em 2019, intensificaram-se as medidas para evitar que o rompimento de barragens pudesse causar danos de grandes proporções.
O córrego da Lagoa fica na microbacia do ribeirão Quilombo, possui sete barragens – 03 (três) na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), 01 (uma) no Círculo Militar de Campinas (CMC) e 03 (três) na Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O córrego tem aproximadamente sete quilômetros de extensão e um desnível de aproximadamente 100 (cem) metros entre a primeira e a última barragem, o que poderia causar efeitos semelhantes a um tsunami, em caso de rompimento.
Eu estava na EsPCEx na tarde do dia 16 de fevereiro de 2003. Logo após a chuva, fui com o Comandante da Escola até as barragens verificar se havia algum dano. Pudemos observar que a água vinda do alto do bairro Castelo ainda passava por cima das barragens e uma boa quantidade de peixes havia ficado sobre a grama ou presos no alambrado que faz divisa com a avenida Getúlio Vargas. Também constatamos alguns danos nas barragens. No outro dia, caminhando sobre a barragem do CMC, dava para ver sinais de que o vertedouro não havia sido suficiente para escoar toda a água da chuva e parte dela também havia passado por cima da barragem, em ambas as laterais.
Logo em seguida, a EsPCEx notificou o Escalão Superior para avaliar a situação das três barragens da Escola, os possíveis riscos de rompimento e os prejuízos que poderia causar, não somente à EsPCEx, mas ao longo da microbacia do córrego da Lagoa, uma vez que poderia haver um efeito cascata, com um grande volume de água atingindo os bairros a jusante.
Nos anos seguintes foi feito o levantamento topográfico da região dos lagos, a fim de verificar se as barragens poderiam suportar um grande volume de água, além da batimetria para conhecer o volume de água em estoque. Também, foram feitos reforços nos vertedouros e aumento da altura das barragens, com possibilidade de escoamento de água nas laterais dos taludes, em caso de os vertedouros não suportarem o volume de água, além da retirada de árvores e plantio de grama nos taludes (Figuras 01, 02 e 03). Cabe ressaltar que as barragens foram construídas na década de 1990, não eram regularizadas e o material utilizado nos taludes foi a própria terra excedente do local.

Foto 01 – Reforço do vertedouro do lago Fortaleza
Fonte: acervo próprio

Foto 02 – Aumento da altura da barragem do lago Fortaleza
Fonte: acervo próprio

Foto 03 – Aumento e reforço da barragem do lago Porto Alegre
Fonte: acervo próprio
Somente em 18 de janeiro de 2008, quase cinco anos depois da chuva de 16 de fevereiro de 2003, com a Portaria 055, do DAEE, publicada do Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOE) de 19 de janeiro de 2008 e Boletim Interno nº 256, de 12 de fevereiro de 2008, da EsPCEx, foi autorizada a intervenção nos recursos hídricos do córrego da Lagoa. Nesse processo, consta que a EsPCEx deverá manter as obras e serviços das três barragens em perfeitas condições de estabilidade e segurança, respondendo pelos danos a que der causa, em relação ao meio ambiente e a terceiros.
Cabe ressaltar alguns dados dos estudos realizados para o processo acima: os lagos totalizam um espelho d’água de 16.038,50 metros quadrados, um volume estocado de água de aproximadamente 36.000 metros cúbicos de água e uma área urbanizada de drenagem da microbacia de 0,90 km quadrados, que vai desde a torre do Castelo – um dos pontos mais altos de Campinas, até a Av. Luis Smanio. Foi feito um levantamento das chuvas dos últimos cem anos para os cálculos de vazões dos vertedouros, que têm capacidade para uma vazão máxima de até 20,40 metros cúbicos por segundo.
Na mesma microbacia do córrego da Lagoa, a jusante dos lagos da EsPCEx, encontra-se o lago general Oscar Lopes da Silva, no Círculo Militar de Campinas, inaugurado em 9 de abril de 1972, com um espelho d’água de 81.854,60 metros quadrados e 129.724,4 metros cúbicos de água. Esse lago conta com uma barragem de 250 metros de comprimento e 13 metros de altura, construída com terra roxa e argila retiradas do próprio local.
O processo de regularização da barragem acima foi semelhante ao das três barragens da EsPCEx, utilizando a mesma metodologia. Por exemplo, foram considerados os índices pluviométricos dos últimos cem anos para o cálculo de vazão máxima do vertedouro de 35,50 metros cúbicos por segundo. Cabe ressaltar a qualidade técnica da construção da barragem: no seu interior, próximo à base, existe um sistema de drenagem, construído com pedras, que leva a água drenada pelo talude para um ponto central na sua base, evitando que a água forme caminhos preferenciais e possa provocar o rompimento da barragem.
Em 12 de novembro de 2009, um ano após a regularização das barragens da EsPCEx, o Diário Oficial do Estado de São Paulo, publicou a Portaria DAEE nº 2321, de 11 de novembro de 2009, autorizando a intervenção do CMC no córrego da Lagoa, para fins de lazer e paisagismo.
Logo abaixo da barragem do CMC, o córrego da Lagoa segue em direção à fazenda Santa Elisa, pertencente ao IAC, onde existem mais três barragens, com taludes de terra e com idades indeterminadas. Em conversas com o diretor da Fazenda, na época da regularização das barragens da EsPCEx e do CMC, fui informado de que as barragens da fazenda Santa Elisa também seriam regularizadas, a fim de adequaá-las à legislação.
Somente em 2021, a prefeitura municipal de Campinas construiu um piscinão, com capacidade de 363 mil metros cúbicos de água, no curso final do córrego da Lagoa, ainda em terras da fazenda Santa Elisa, para receber as águas de grandes quantidades de chuvas. A função do piscinão seria controlar a velocidade do tempo de escoamento da água, para minimizar a ocorrência de enchentes e dar condições de habitabilidade na região. Cabe ressaltar que, logo após a fazenda Santa Elisa, passando sob a rodovia Dom Pedro, o córrego da Lagoa deságua no ribeirão Quilombo em uma área urbana, onde estão os bairros Jardim Campineiro, São Marcos (considerada pela Defesa Civil, como uma das três áreas mais sujeitas a inundação de Campinas, antes da construção do piscinão), Santa Mônica e Vila Esperança, com uma população de aproximadamente 25 mil pessoas (Figura 04).

Figura 04 – Piscinão do córrego da Lagoa e bairros a jusante
Fonte: Cohab
Em síntese, a ocorrência de um evento climático extremo, com chuvas de 800 a 1.000 mm, na microbacia do córrego da Lagoa, em curto lapso de tempo, como os que ocorreram, por exemplo, no litoral norte de São Paulo e no Rio Grande do Sul, poderia levar ao rompimento das barragens, causar um efeito cascata, potencializado pelo grande desnível do terreno e colocar em risco a vida de centenas de pessoas nos bairros a jusante, além de enorme prejuízo material.
As barragens foram construídas com terra e argila e são já antigas. A barragem do CMC, com mais de 50 anos, tem o maior volume de água e aproximadamente 100 metros de desnível em relação ao bairro Santa Mônica.
Os cálculos que levaram à aprovação das barragens consideraram índices pluviométricos de um período de cem anos. Porém, não foram levados em consideração eventos extremos como os acima citados.
Para mitigar prováveis impactos que possam ocorrer, seria certamente inviável realocar bairros inteiros. Todavia, medidas preventivas, tais como monitoramento das barragens, verificação do cumprimento das normas estabelecidas, informação aos bairros próximos ao córrego da Lagoa dos riscos da ocorrência de alagamentos, além de treinamento em caso de acidentes, estabelecimento de pontos de reunião e de rotas de fuga etc., poderiam minimizar a ocorrência de uma grande catástrofe.
Dia Mundial da Água
Osmar da Rosa Rabelo – Major R1 QCO
No dia 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água, conforme Resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de 22 de dezembro de 1992. Esta data visa à conscientização da população, para a preservação deste recurso natural essencial para os ecossistemas e para a vida no planeta.
Embora a água cubra dois terços do planeta, apenas 2,5% desse volume é constituído de água doce e a maior parte dele encontra-se nas calotas polares. O Brasil concentra aproximadamente 12% da água doce do planeta, com 80% dessa água na Região Amazônica e apenas 3% na faixa próxima ao Oceano Atlântico, onde se concentra a maior parte da nossa população.
A Cordilheira dos Andes faz com que as correntes de ar quente e úmido da região equatorial sejam desviadas para o sudeste do Brasil. Beneficiado por esses “rios voadores”, o Estado de São Paulo desfruta de um clima privilegiado que contribui para fazer dele o maior gerador de riquezas do País. Já outras regiões do planeta cortadas pelo Trópico de Capricórnio são caracterizadas por desertos, como acontece no Chile, na Austrália e na Namíbia.
Em relação ao Município de Campinas, 12º PIB do Brasil, com mais de um milhão e cem mil habitantes, este poderia ter uma disponibilidade hídrica suficiente para atender às nossas necessidades e continuar se desenvolvendo de forma sustentável, considerando as restrições/disponibilidades supracitadas. Todavia, a maior parte dos recursos hídricos disponíveis em nossa região são desviados para a Região Metropolitana de São Paulo e devolvidos, em forma de esgotos, ao rio Tietê. Por volta do ano 2000, Campinas tratava apenas 5% do seu esgoto e já teríamos entrado em colapso hídrico, se não fosse a ação conjunta do Ministério Público, gestores municipais e a conscientização da população para a necessidade da construção de estações de tratamento de esgotos, proteção dos mananciais, uso racional da água etc.
Na Macrorregião Norte de Campinas, em outros tempos, as águas do Ribeirão Quilombo já foram utilizadas para a lavagem e beneficiamento do café produzido pela Fazenda Chapadão, uma das maiores produtoras do Município, durante o Ciclo do Café. Entretanto, com o passar do tempo, a água do Ribeirão Quilombo passou a ser considerada imprópria para consumo devido ao lançamento de esgotos. Nessa mesma área, na década de 1940, o Córrego Boa Vista foi utilizado como fonte de abastecimento de água potável para as primeiras unidades militares da Fazenda Chapadão, o 5º Grupo de Canhões 90 Antiaéreo (5º G Can 90 AAé) e o 1º Batalhão de Carros de Combate Leve (1º BCCL), todavia, devido ao lançamento de esgotos no Córrego Boa Vista, a captação de água foi interrompida.
Na região do Bairro Castelo, em dias de chuvas fortes, resíduos deixados nas ruas das partes altas do Bairro, escoam para dentro da área da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), poluindo as águas do Córrego da Lagoa e propiciando a formação de criadouros das larvas do mosquito transmissor de diversas doenças, como a Dengue. Além disso, durante as chuvas fortes é comum o entupimento dos bueiros da Av. Luís Smânio por garrafas plásticas que bloqueiam a passagem da água, alagando a Avenida e, de forma recorrente, danificando o alambrado limítrofe da EsPCEx.
Em síntese, não temos um problema de falta de água, mas temos falhas na gestão da água, em diversos níveis e escalas de atuação, seja local, regional ou global, que levam a sua escassez. Desse modo, é de suma importância que este recurso essencial para a vida seja tratado como um bem público, de forma racional, pelos diversos setores da sociedade, a fim de atender tanto às nossas necessidades atuais quanto às das gerações futuras.
Plantio da Nascente, 24 de Novembro de 2023
Osmar da Rosa Rabelo – Major R1 QCO
O objetivo deste plantio é resgatar a vegetação original de Mata Atlântica do local, preservar a nascente do córrego da Lagoa e despertar no aluno a conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Historicamente, a Mata Atlântica foi um dos biomas mais explorados em nosso país, restando apenas 12,5% da vegetação original. Cerca de 70% da população brasileira vive no bioma da Mata Atlântica, onde é captada aproximadamente 39% da água consumida. No município de Campinas, de acordo com estudo da Unicamp publicado em 1999, restou apenas 2,55% da vegetação original. Hoje vivemos em uma região de escassez hídrica.
Há vinte anos, a EsPCEx iniciou um Programa de Gestão Ambiental e vem realizando diversas ações para a preservação do meio ambiente. Dentre elas, a substituição de árvores exóticas - principalmente pinus e eucaliptos - por nativas, além da recomposição das áreas de preservação permanente (nascente e entorno dos lagos), o que aumentou a área de cobertura vegetal de 10% para mais de 25% e levou à formação de um corredor ecológico, trazendo de volta diversas espécies de pássaros e animais silvestres.
No dia 28 de novembro de 2003, foram plantadas as primeiras árvores nativas deste local. Nesse sentido, alguns militares daquela época hoje retornam à Escola para dar continuidade àquele propósito. No local em que à época havia uma área degradada, hoje se pode avistar um pequeno Bosque, entre o estádio da Fonte e o conjunto aquático.
Hoje estamos plantando espécies típicas da Mata Atlântica, como o jatobá, a figueira, a paineira, o pau-brasil, além de árvores frutíferas – a jabuticabeira, a pitangueira e o cajá-mirim - que ajudarão na alimentação de animais e pássaros. Cabe ressaltar que, dentre as frutíferas, temos algumas exceções, como a amoreira, que não são nativas.
É significativo dizer que este plantio, além do propósito conservacionista de resgatar a vegetação original, atrair espécies nativas de animais e pássaros e preservar a nascente do córrego da Lagoa, visa despertar no aluno da EsPCEx o desejo de replicar, ao longo da carreira militar, os conhecimentos aqui adquiridos.
Para encerrar, vou repetir o que dizia um antigo comandante da nossa Escola: “se apenas um aluno desta Turma replicar o conhecimento aqui adquirido, já me dou por satisfeito”.


















O Dia da Árvore
Osmar da Rosa Rabelo – Major R1 QCO
O próximo dia 21 de setembro de 2023, Dia da Árvore, o dia que antecede o início da primavera no Hemisfério Sul, é uma boa oportunidade para refletirmos sobre o que temos feito pela preservação do meio ambiente e em benefício de uma qualidade de vida melhor.
Desde a Conferência de Estocolmo, no início da década de setenta, os países desenvolvidos passaram a se preocupar com o meio ambiente, em face dos entraves que os problemas ambientais poderiam causar ao desenvolvimento econômico. Neste sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou diversos instrumentos de políticas públicas com o objetivo de descrever responsabilidades e nortear ações visando a um desenvolvimento sustentável.
A Conferência Rio-92, promovida pela ONU vinte anos após Estocolmo, com a participação de 179 países, é um marco na disseminação de novas ideias para a preservação ambiental e a conscientização de que o nosso planeta tem recursos naturais limitados. Não se trata de um problema apenas dos países desenvolvidos, mas também dos países pobres e em desenvolvimento. Nesse contexto, foram criadas diversas políticas públicas voltadas para mudanças climáticas, diversidade biológica, florestas e assim por diante, além de uma agenda que envolve o setor público, o setor privado e a sociedade como um todo.
A questão que surge é exatamente sobre o que temos feito no âmbito de nossas atribuições, seja como pessoas de família, servidores públicos, empresários, educadores, entre outros – e, principalmente, o que vamos deixar para as gerações futuras.
Para ser mais específico, vêm-me à lembrança as ações voltadas para a preservação ambiental, desenvolvidas pela Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), as quais produzirão resultados ao longo da carreira dos oficiais combatentes do Exército Brasileiro.
Desde a década de 1960, antes mesmo da Conferência de Estocolmo, o major Pedro Beraldo, integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutou nos campos de batalha da Itália contra as tropas alemãs e contribuiu para a vitória dos Aliados, realizou o plantio de diversos bosques na Escola, no Círculo Militar de Campinas (CMC) e nos bairros de Campinas, até meados dos anos oitenta.
Nos anos noventa, foram construídos os lagos da EsPCEx e melhorias no sistema de drenagem da nascente, a fim de garantir a disponibilidade de água para o córrego da Lagoa. No ano 2000, foi criado o bosque Brasil 500 anos, onde foram plantadas diversas mudas de pau-brasil para comemorar os quinhentos anos do descobrimento e levar-nos à reflexão sobre a preservação das nossas florestas.
Nos últimos 20 anos, com a inserção do Programa de Gestão Ambiental, a Escola recuperou o bosque da Capela, a vegetação nativa da Nascente e da mata ciliar do córrego da Lagoa, além de diversas atividades ambientais com a participação dos alunos, professores e instrutores.
Neste ano, com o apoio da Associação dos Ex-Alunos e Amigos da EsPCEx (AEsPCEx), a Escola realizou o tradicional plantio da muda de pau-brasil no bosque da Tradição, substituiu diversas árvores com riscos de queda e, até o final do ano, nas palavras do Comandante da Escola, cada aluno plantará uma muda de espécie nativa.
É de notar-se que, a partir de iniciativas como essa, nos últimos vinte anos a cobertura vegetal da Escola passou de 10% para mais de 25% de sua área de responsabilidade.
Embora isso pareça suficiente para os nossos padrões ambientais, ainda temos muito a realizar. Novos desafios surgem a cada dia e os alunos da EsPCEx precisam estar preparados para as mudanças climáticas, a transição para a economia de baixo carbono, além de outros desafios na área ambiental que nos afetarão cada vez mais diretamente.
Ao que tudo indica, eventos climáticos extremos, como tempestades, secas e inundações, tendem a se tornar cada vez mais frequentes e agudos no futuro próximo. Nessas ocasiões, muitos de nossos futuros oficiais serão empregados em benefício do cumprimento da missão do nosso Exército no socorro às populações em situação de risco. É importante que tomem contato com o tema desde já.
Programa Ambiental da EsPCEx 2002 – Uma Análise Crítica 20 anos depois
Osmar da Rosa Rabelo – Major QCO
Introdução
Passados vinte anos da implantação do Programa de Gestão Ambiental da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), surgiu a oportunidade de fazer uma reflexão sobre os resultados obtidos e propor novas ideias, que poderão auxiliar na gestão desse patrimônio de extraordinário valor.
Uma das principais iniciativas, que viabilizou a implantação do Programa foi a assinatura do Termo de Cooperação Mútua entre a EsPCEx, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), cuja diretora era a Engenheira Agrônoma Márcia Calamari, uma grande defensora do meio ambiente, que teve a iniciativa da parceria. O objetivo desse Termo foi a implementação de ações ambientais, a execução de paisagismo e o reflorestamento em áreas de propriedade da Escola, tudo em caráter não oneroso.
Naquele Termo, a CPFL se comprometeu a plantar e fazer a manutenção por dezoito meses de cerca de 16.500 mudas de árvores, a fim de recuperar a mata ciliar dos lagos e nascentes, substituir árvores exóticas (eucaliptos), além de recuperar bosques de valor estético e paisagístico à frente da Escola.
Coube à EsPCEx autorizar e disponibilizar as áreas para reflorestamento, além de permitir a veiculação na imprensa e em um outdoor de matéria divulgando o programa ambiental.
Finalmente, o DEPNR se responsabilizou pela análise, aprovação e quitação com a CPFL do passivo ambiental correspondente às mudas plantadas, além de fornecer dezesseis mil mudas de sansão do campo.
Objetivo e justificativas
Manter o compromisso de preservar o meio ambiente, melhorar a qualidade de vida das pessoas que de alguma forma se relacionam com a Escola: alunos, corpo permanente, professores, ex-integrantes e a comunidade local. Resgatar a história da implantação do Programa Ambiental de 2002 e seus desdobramentos relacionados à preservação da flora e da fauna e, principalmente, ao seu impacto educativo.
Especificamente, o Programa Ambiental tinha 13 (treze) objetivos, alguns deles genéricos. Procuraremos focar os mais relevantes.
Lembrando das palavras do Comandante da EsPCEx, em 2002, Tenente-Coronel Décio Luís Schons, ao dirigir-se aos alunos da Escola, durante o plantio de mudas de árvores por ocasião do lançamento do Programa, “se apenas um dos alunos aqui presentes levar os conceitos de preservação do meio ambiente aqui ensinados e replicá-los durante a sua carreira militar, eu já me dou por satisfeito”.
Dentre os alunos da EsPCEx formados durante a execução do Programa, passados quarenta anos daquela data, estarão os generais que definirão os destinos do Exército.
Metodologia
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Análise de documentos produzidos na época: Programa Ambiental EsPCEx – 2002, relatórios técnicos, imagens de satélite etc.
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Comparação dos dados relatados acima com informações atuais disponíveis na Escola.
Resultados alcançados
- A retirada dos eucaliptos
Em face do risco de acidente, a retirada dos eucaliptos foi uma das primeiras providências do novo Comandante da Escola, em 2002. Provavelmente tenha partido dali a motivação para a criação de um projeto ambiental que compensasse o impacto da retirada das árvores que, para os integrantes da Escola e a população do entorno, poderia representar uma perda em termos de valor paisagístico.
Havia o risco iminente de graves acidentes com a queda de eucaliptos sobre a Av. Luis Smanio, avenida de tráfego intenso, principalmente nos horários de pico. A situação era agravada pela grande quantidade de eucaliptos situados ao longo de todo o trecho da Avenida em que ela bordeja o terreno da Escola. Mais ainda, estamos falando de árvores frágeis, brotações a partir das árvores primitivas que haviam sido cortadas, por volta de 1987, quando o bosque de pinus existente junto à Capela Santo Tomás de Aquino foi retirado. Era comum a presença de cupins nas bases carcomidas das árvores, o que potencializava o risco de queda.
De acordo com a declaração do Órgão Estadual responsável pelo licenciamento ambiental da época, Diretoria Regional Centro Paulista (DPRN-1), não havia nenhum impedimento para a supressão dos eucaliptos, pois se tratava de espécie exótica, livre de corte, além de não se encontrar em área de preservação permanente.
Entretanto, houve a preocupação do Comando da Escola em informar aos demais órgãos ambientais nos níveis federal e municipal, além de enviar uma carta aos moradores vizinhos à Escola, informando sobre os riscos de acidentes envolvendo automóveis, pedestres e a rede de alta tensão que havia no local.
Também foram informados os problemas típicos de uma floresta de eucaliptos, tais como a falta de diversidade, a dificuldade de atrair pássaros, a aridez do solo, a extinção de nascentes etc. Além disso, a carta esclarecia que os eucaliptos seriam substituídos por árvores nativas da região, de menor porte, mais adequadas à biodiversidade e informava que a Escola estava aberta a sugestões.
Foram inúmeras as manifestações dos moradores do entorno da Escola, principalmente por cartas, manuais, datilografadas e digitadas, com palavras de agradecimento e sugestões.

Foto 01 – Início do corte dos eucaliptos, 2002
Fonte: acervo próprio
O reflorestamento com pinus e eucaliptos, normalmente plantados ao longo de avenidas e próximo das residências, durante as décadas de 1960 e 1970, não decorriam de preocupação com o meio ambiente, como ocorreu nas décadas posteriores. Segundo informações obtidas com antigos militares e sócios do Círculo Militar de Campinas, depois da erradicação dos cafezais da Fazenda Chapadão, a região do entorno da Escola era coberta por uma vegetação rasteira conhecida como “barba de bode”. O principal objetivo do plantio de renques de árvores exóticas era formar um escudo que ajudasse a proteger a Escola e as Vilas Militares das fortes rajadas de vento, principalmente no inverno. Cabe ressaltar que, ao longo da Av. Getúlio Vargas, em frente à Vila dos Capitães e Tenentes, também havia um renque de pinus, suprimido alguns anos antes.
Os eucaliptos localizados ao fundo da imagem acima, localizados entre o Estádio da Fonte e as piscinas, também tiveram seu corte autorizados, embora não oferecessem riscos iminentes de queda. O plantio deles tivera, à época, o objetivo específico de auxiliar na drenagem do solo, nas nascentes do Córrego da Lagoa, pois, em períodos de chuva o sistema de drenagem construído em insuficiente para manter o gramado do campo de futebol em condições de utilização.

Foto 02 – As primeiras mudas trazidas pelos alunos
Fonte: acervo pessoal

Foto 03 – Equipamento e pessoal de apoio
Fonte: acervo pessoal

Foto 04 - Os problemas de erosão
Fonte: acervo pessoal
O lançamento do Programa Ambiental da EsPCEx
Após diversas reuniões, retirar os eucaliptos, definir as atribuições dos diversos atores envolvidos no processo, deu-se o lançamento do Programa Ambiental da EsPCEx, no dia 14 de setembro de 2002, com uma formatura à margem direita do lago Rio Grande do Sul (lago do meio), com a presença de todo o efetivo da Escola, diversas autoridades, dentre elas a Diretora do Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais (DPRN), o Diretor de Operações da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), o Comandante, oficiais e alunos do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de São Paulo (CPOR), além de amigos da Escola.
Nas palavras do Comandante da Escola, foi destacada a importância da integração da Escola com a comunidade local em diversas áreas, com destaque para a área ambiental, em um momento de celebração à natureza. Naquela data foi assinado o Termo de Cooperação entre a CPFL, o DPRN e a EsPCEx, o que representou um importante passo em direção à cooperação e à preservação do meio ambiente.
Cabe destacar as palavras do Comandante da Escola ao corpo discente “Aos nossos prezados Alunos, a quem é dedicado este Programa Ambiental Tudo que se faz em uma escola deve ter, em última análise, um
caráter educacional, e com o Programa de Gestão Ambiental não poderia ser diferente. O efeito educativo e multiplicador das atividades aqui desenvolvidas será percebido não agora, mas daqui a alguns anos, quando os alunos de hoje, já oficiais, estiverem espalhados pelo nosso território e, ao se depararem com problemas semelhantes aos que temos hoje aqui, resgatarem da memória estes momentos. Ou então quando, já oficiais, regressarem a esta casa e verificarem que as pequenas mudas que neste ano forem plantadas transformaram-se em árvores – e poderão com orgulho dizer que estiveram presentes e fizeram parte deste programa.”
Foi então assinado o Termo de Compromisso entre as partes, datado de 14 de setembro de 2002. Encerrando o evento, cada um dos presentes teve a oportunidade de plantar uma muda de árvore nativa às margens do lago.
Análise dos objetivos do Programa
Os objetivos do Programa Ambiental – 2002 foram: reflorestar as margens dos três lagos da EsPCEx, de modo a reconstituir a sua mata ciliar; formar um corredor ecológico, que se ligasse à mata do Círculo Militar; replantar o Bosque em frente à Capela; e arborizar as áreas de nascentes. Comparamos a imagem de satélite disponível no Programa com a imagem da Escola, de 2022, disponível no Google Maps:
Verifica-se pelo tamanho das áreas cobertas por vegetação arbórea, nos locais objeto de reflorestamento, que o plantio foi executado e se mantém, com pequenos espaços abertos, que podem ser decorrentes árvores que morreram ao longo do tempo e que poderiam ser substituídas. Também se verifica que as áreas demarcadas como objeto do programa têm cobertura vegetal além do previsto, principalmente na nascente do Córrego da Lagoa e nas margens dos três lagos.

Foto 05 – Imagem de Satélite – 2002, constante do Programa
Fonte: Embrapa Monitoramento por Satélite

Foto 06 – Imagem de satélite em 08 Set 2022
Fonte: Google Maps
Se colocarmos em uma tabela a área dos bosques, fica mais clara a visualização de cada bosque, em metros quadrados (aproximadamente):

Todas as áreas plantadas tiveram aumento do tamanho reflorestado, totalizando um aumento de aproximadamente 31,16%, exceto o Bosque da Capela, que tem sua área delimitada por ruas asfaltadas. Destaca-se o aumento da área plantada de mata ciliar, 15.000 metros quadrados e a área das nascentes 8.000 metros quadrados. O Bosque da Tradição não foi analisado, uma vez que não era objeto do programa. Nele foram plantadas vinte mudas de Pau Brasil, sendo uma por ano, por ocasião do aniversário da Escola.
Com base em um relatório técnico de 15 de outubro de 2003, da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), empresa responsável pelo plantio, de acordo com o Termo de Cooperação, o cronograma de trabalho foi considerado aceitável. Ele especifica a quantidade de mudas plantadas, com perdas de 13%, devido a fatores como qualidade do solo, período de seca, presença de capivaras (na região dos lagos foi registrada a perda de 54% das mudas) etc. A CPFL se comprometeu a executar o Programa Ambiental da EsPCEx, de autoria da bióloga Giselda Person, implantando as mudas e proporcionando a manutenção por dezoito meses.
Tabela 1 – Área dos Bosques objeto do Programa

Tabela 2 – Quantidade de mudas plantadas
Fonte: Relatório Técnico nº 009-GPM, de 15 de outubro de 2003, da CPFL
Cabe ressaltar que foram plantadas onze mil mudas de sansão do campo, nas áreas limítrofes da Escola, com as Av. Luis Smanio e Getúlio Vargas, com o objetivo de formar uma cerca viva e aumentar a segurança da Escola. Todavia, essa vegetação foi totalmente suprimida ao longo dos anos, tendo em vista diversos fatores.
Em complemento aos dados acima seguem fotos das margens dos lagos, do bosque da capela e lateral da Av, Luis Smanio:

Foto 07 - Margens do 3º lago, sem vegetação 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 08 - Margens do lago do meio, com pouca vegetação 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 09 - Margens dos lagos 1 e 2
Fonte: acervo pessoal

Foto 10 - Margem dos lagos em 22 de setembro de 2022
Fonte: acervo pessoal

Foto 11 - Lateral da Av. Luis Smanio, em 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 12 - Lateral da Av. Luis Smanio, dia 22 de setembro de 2022
Fonte: acervo pessoal

Foto 13 - Bosque da Capela 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 14 - Frente da Capela Santo Tomás de Aquino em 2005
Fonte: acervo pessoal

Foto 15 - Bosque da Capela, dia 22 de setembro de 2022
Fonte: acervo pessoal
No dia 28 de novembro de 2003, ocorreu mais um plantio na região do caminho do Bem-Te-Vi, entre o estádio da Fonte e a Av. Luis Smanio, com a presença de toda a Escola, incluindo os alunos. Nesse dia foram plantadas mais de quinhentas mudas de árvores nativas. Naquele momento as margens dos lagos, o bosque da Capela e as nascentes já haviam sido reflorestadas e assim fica evidenciado, mais uma vez, a determinação do Comando em relação ao meio ambiente e o envolvimento dos alunos nesse importante Tema, de acordo com o previsto no Plano Geral de Ensino (PGE).

Foto 16 - Formatura da Escola para plantio, em 26 de novembro de 2003
Fonte: acervo pessoal

Foto 17 - Plantio de mudas nativas, em 26 de novembro de 2003
Fonte: acervo pessoal
A identificação das árvores à frente da Escola
Um dos principais objetivos do Programa era identificar as diferentes espécies de árvores existentes na Escola para iniciar a formação de um banco de dados dos recursos ambientais. A engenheira agrônoma, doutora Escolástica Ramos de Freitas, do CATI, especialista em botânica, identificou voluntariamente, durante o ano de 2002, as espécies existentes à frente da Escola, desde o Bosque da Capela até a piscina. Foram identificadas 38 (trinta e oito) espécies, conforme tabela abaixo, oriundas de diferentes partes do mundo e chamou a atenção a dificuldade para identificar algumas espécies, devido à raridade, sendo que, em alguns casos a especialista teve que colher algumas folhas ou sementes e levar ao CATI, para outro pesquisador identificar.
Atualmente, é possível entender a dificuldade da especialista, ao sabermos que o plantio das primeiras árvores na Escola foi feito pelo Major Pedro Beraldo, que trazia espécies raras, de diferentes lugares e cuidadosamente as plantava na Escola, no Círculo Militar e em outras locais da Cidade.




Tabela 3 - Identificação das árvores da frente da Escola, 2002
A separação do lixo, a coleta seletiva e a compostagem
A separação do lixo, a coleta seletiva e a produção de composto orgânico na EsPCEx e nas vilas militares estavam inseridas no Programa de Gestão Ambiental da Escola e tinham como objetivo a preservação do meio ambiente, através de uma atuação ambientalmente sustentável e socialmente responsável.
As premissas da separação e coleta seletiva era a disposição decrescente de resíduos no aterro sanitário; máxima separação de resíduos na fonte (redução, reutilização e reciclagem) dos resíduos gerados; educação ambiental continuada, principalmente em relação aos alunos, e sustentabilidade na gestão de resíduos sólidos.
Toda a Escola, incluindo o Corpo de Alunos, os soldados e os moradores das vilas militares foram incluídos no programa. Foram instaladas lixeiras específicas para o lixo orgânico e o lixo reciclável. O lixo orgânico era coletado diariamente no final de tarde e a coleta seletiva era feita toda quarta-feira no período da manhã (nas vilas militares e na Escola).
A Escola produzia diariamente uma tonelada de lixo, com potencial de reciclagem de aproximadamente trezentos quilos. Naquela época, Campinas reciclava apenas 5% do lixo produzido.
No dia 16 de setembro de 2003, como parte das comemorações do aniversário da Escola, o Núcleo de Mergulhadores Autônomos (NuMAut), realizou a campanha do 18º Dia Internacional de Limpeza das Águas, promovida pelo “Center for Mariner Conservatione”, Fundação Projeto Aquatic Word Awareness Responsability and Education (AWARE)”. O evento contou com palestra de conscientização a todos os integrantes da Escola, seguida de coleta, separação e pesagem de mais de trezentos quilos de material reciclável, recolhido na região dos três lagos. Este evento demonstra, mais uma vez, a preocupação do Comando em envolver todo o efetivo e principalmente os alunos com atividades voltadas para a preservação do meio ambiente e da poda de árvores eram destinadas à compostagem. Para evitar que a lâmina ou o fio de nylon das roçadeiras atingisse o caule das árvores, foram colocados nos bosques antigos as sobras de grama cortada.
Em 2022, não existe mais a coleta seletiva na Escola e a área de compostagem virou depósito de troncos de madeira e de restos de construção.

Foto 18 - Pesagem do lixo recolhido na região dos lagos da Escola
Fonte: NuMAut

Foto 20 - Área de compostagem 22 de setembro de 2022
Fonte: acervo pessoal

Foto 19 - Área de compostagem 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 21 - Colocação de compostagem e terra vermelha no pátio Agulhas Negras, 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 22 - Sobras de gramas ao redor das árvores, 2002
Fonte: acervo pessoal

Foto 23 - Base de muda de Pau-Brasil cortada por lâmina de aço, 22 de setembro de 2022
Fonte: acervo pessoal
Levantamento da fauna da Escola
Diversos animais e pássaros já foram avistados dentro da Escola, principalmente na região dos lagos. Os mais comuns são as capivaras, o lagarto teiú e o ratão do banhado, que encontraram ali um habitat favorável. Os moradores das vilas militares se acostumaram com os novos moradores que chegaram após o ano de 2002, com o crescimento das árvores, principalmente aqueles que estavam mais próximos das áreas de preservação permanente, como é o caso da vila dos Funcionários Civis. Cabe destacar os relatos da Senhora Luísa, responsável pelo cafezinho, que contava sobre os tatus e seus filhotes, os quais apareceram em sua casa e à noite se alimentavam das cascas de laranja. Relatava que certa vez seu marido teve que arrancar da boca de uma jiboia um franguinho de sua criação e em seguida levou a cobra para a área de preservação, longe da Vila.
Essas histórias comprovam a interação que passou a existir entre os moradores e os animais, embora houvesse riscos, como era o caso das capivaras que chegaram a formar bandos de cinquenta animais. Os carrapatos das capivaras são os responsáveis pela transmissão do vírus da febre maculosa. Ao longo de vários anos, tentou-se isolar a Escola das capivaras, mas os resultados não foram satisfatórios.
As viaturas que faziam a ronda noturnas também representavam risco para os animais e eventualmente atropelavam cobras, coelhos e tatus. O caso mais emblemático foi o de uma seriema, que por alguns anos foi avistada dentro da Escola, mas com o tempo passou a atravessar as Av. Luis Smanio e Papa Pio XII, porque próximo à praça Tiro de Guerra havia um ponto de táxi e os motoristas passaram a alimentá-la. Infelizmente, ela desapareceu logo em seguida. Provavelmente terá sido morta por atropelamento ou capturada.
Durante o ano de 2005, foi realizado um levantamento de avifauna na região dos lagos da Escola, que serviu de trabalho de final de curso, de Mariana Casanova, para obtenção do título de bacharel em ciências biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCamp).
Nesse estudo, foram realizados 90 levantamentos zoo-ecológicos, no prazo de quatro meses, de junho a setembro, nos períodos da manhã e da tarde. Foram registradas 41 (quarenta e uma) espécies de aves, principalmente nas margens do lago mais próximo ao Círculo Militar de Campinas (CMC). Naquele ano, a mata ciliar ainda estava em processo de formação e o tempo bastante limitado, se comparado às 112 (cento e doze) aves avistadas na região do lago do CMC, em um período de dez anos, embora tenham sido avistadas oito espécies que não constavam da relação do CMC.
Dentre as espécies avistadas foram citadas o beija-flor de peito-azul, bem-te-vi-pirata, gaviãozinho, inhambu-chitã, maria faceira, maitaca, pica- pau-branco, tico-tico-do-campo, tiê-da-mata, dentre outros. Além dos registros acima, na região do prédio principal da Escola, próximo ao Bosque da Tradição, foram feitos alguns avistamentos da coruja mocho-diabo.
O Bosque da Nascente
A Escola tinha, em 2002, aproximadamente 10% de sua área ocupada por árvores nativas e exóticas. Em 2005, a Escola passou a ter aproximadamente 20% de sua área coberta por árvores nativas e exóticas.
Mesmo com a mudança do comando da Escola no final de 2003, as atividades relacionadas ao Programa Ambiental tiveram continuidade. Nessa época, foram retirados alguns pinus que restaram junto ao entorno do estádio Bela Vista e próximo a vila dos Funcionários Civis, os quais apresentavam riscos de queda sobre as casas, além de eucaliptos remanescentes na região das nascentes.
Um novo plantio, com mais de 550 mudas foi realizado no dia quinze de setembro de 2005, com uma formatura comemorativa do evento, a presença de todo o efetivo da Escola e convidados do Comando. Uma nova área verde foi incorporada à região das nascentes do córrego da Lagoa e passou a ser chamado bosque da Nascente.
Não se tratava de repor mudas perdidas ou cumprir com as normas ambientais, mas aumentar a área de cobertura de vegetação nas nascentes desse importante curso de água que forma os três lagos da Escola, o lago do CMC, os lagos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico, além de se incorporar ao ribeirão Quilombo, que tem diferentes usos da água ao longo da sua microbacia. De acordo com o Código Florestal, consideram-se áreas de preservação permanente.............”nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d’água qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura”.

Foto 24 - Preparação da área de plantio no entorno da nascente, dia 10 de setembro de 2005.
Fonte: acervo pessoal

Foto 25 - Área das nascentes já reflorestada,10 de setembro de 2005
Fonte: acervo pessoal
A orientação para o plantio foi feita por profissionais da área ambiental, como a Professora Doutora Dionetti Santin, que proferiu diversas palestras de concientização, na Escola, sobre a crítica situação das áreas verdes de Campinas. O material utilizado, como as mudas, foram doados por particulares e instituições, tais como, o Departamento de Parques e Jardins de Campinas, Viveiro de Paulínia e Furnas S.A.

Foto 26 - Bosque da Nascente, dia 22 de setembro de 2022
Fonte: acervo pessoal
Considerações finais
Conclui-se, tendo em vista os resultados alcançados, que o Programa Ambiental da EsPCEx foi exitoso.
A Escola, em 2002, tinha aproximadamente 10% de sua área formada por bosques; em 2005, passou para 20% e em 2022 tem aproximadamente 25% de sua área coberta quase que exclusivamente por mata nativa, em áreas de preservação permanente e bosques, embora algumas árvores tenham morrido e algumas partes estejam ocupadas por plantas invasoras, como as leucenas. Ou seja, atualmente 138.500 dos 555.000 metros quadrados da área da Escola encontram-se preservados.
Diversas espécies, algumas raras, como o Jequitibá Branco, Angico Preto, Pimenta da Jamaica, foram plantadas desde a década de sessenta e continuam preservadas. Em 2002, foi plantada uma Castanheira do Pará, ou Castanha da Amazônia, doada pelo ambientalista Miguel Agostinho Guardia, in memoriam, árvore que hoje tem mais de dez metros de altura. Alguns exemplares de árvores da espécie Guapuruvu foram identificados ao longo da Av. Luis Smanio. Por se tratar de uma árvore frágil e de grande porte, existe risco iminente de queda sobre a Avenida, podendo ocasionar graves acidentes.
Observando as áreas verdes da Escola e seu entorno, verifica-se que o objetivo inicial de cooperar com a formação de um corredor ecológico desde a área das nascentes do córrego da Lagoa foi alcançado. Cabe a observação de que os drenos colocados na nascente há mais de 25 anos estão com sua vida útil esgotada e necessitam de manutenção.
A cooperação entre a Escola e diversos Órgãos Ambientais pôde ser evidenciada em diversas fazes do Programa, principalmente entre a CPFL, o DEPRN e o Departamento de Limpeza Urbana de Campinas (DLU). Aparentemente, em 2022, essa cooperação está bem reduzida.
Em 2022, constatou-se que o maior problema ambiental da Escola é representado pelas capivaras, devido ao risco de contaminação com o vírus da febre maculosa.
A coleta seletiva foi reduzida ao material do Rancho e não é mais praticada nas vilas militares e no Corpo de Alunos. A área de compostagem está ocupada por restos de construção e galhos de árvores. A colocação de sobras de grama ao redor das árvores foi suprimida e o corte de grama junto ao troco das árvores é recorrente em diversas partes da Escola, principalmente no Bosque da Tradição, ocasionando a morte de diversas árvores. Também é recorrente a presença de formiga saúva, que prejudica sobremaneira as árvores.
Quanto ao propósito educacional, um longo caminho foi percorrido. Diversas matérias foram publicadas na revista Pedagógica da Escola. Eventualmente, os alunos participaram de atividades ambientais ao longo destes anos e até um livro, com o título o Verde Protegendo o Verde, de autoria do Coronel Capellano, foi publicado. Todavia, a Escola tem um grande potencial humano e ecológico que poderia ser mais bem aproveitado, a partir de iniciativas como aquelas desenvolvidas em diversos momentos do passado.
Alguns nomes foram citados, no decorrer deste trabalho e outros, não menos importantes, por minha inteira responsabilidade não foram lembrados, mas, deixo aqui o meu pedido de desculpas e toda a minha gratidão a todos aqueles que de alguma forma participaram desta iniciativa. Em especial, o meu sincero agradecimento ao Sr. Damastor da Silva, “Seo Tutti”, in memorian, antigo funcionário da Fazenda Chapadão, antes mesmo de pertencer a União e ao Exército, que passou os últimos anos na EsPCEx, cuidando dos jardins e que eu tive a honra de conviver.
Introdução
Logo que o Exército adquiriu a fazenda Chapadão, em 1942, foi nomeado um Diretor para administrar esse patrimônio, até a criação da 11ª Brigada de Infantaria Blindada, em 22 de dezembro de 1971. Esse Diretor era subordinado ao Comandante de Unidade mais antigo. Desse modo, o Comandante da EsPCEx era também, eventualmente, o Comandante da Guarnição Militar de Campinas.
Os problemas sanitários da Fazenda vêm de longa data e a EsPCEx se insere neste contexto, em face da gestão dos problemas da Fazenda, quando o Comandante da Escola também era o mais antigo da Guarnição e do emissário de esgoto, que passa em área da EsPCEx.
A fazenda Chapadão é cortada pelo ribeirão Quilombo em sua região central, pelo córrego da Lagoa em áreas do Círculo Militar de Campinas e EsPCEx, além do Córrego Boa Vista, desde a rodovia Anhanguera até a rodovia Dom Pedro I, nos limites com propriedades privadas. Essas fontes de água limpa, que serviram à fazenda Chapadão por gerações, passaram a receber esgoto dos bairros que se formaram no entorno da Fazenda e, ao longo do tempo, transformaram-se em depósito de resíduos urbano e industriais, comprometendo significativamente a qualidade da água.
Nos últimos anos, o município de Campinas fez diversos investimentos em saneamento básico, construiu estações de tratamento de esgoto (ETE) e atualmente tem capacidade instalada para tratamento de 100% do esgoto. A última ETE, foi a Boa Vista, inaugurada em 2021, a qual recebe os esgotos produzidos pela fazenda Chapadão e pelos bairros vizinhos à Fazenda. Todos os quartéis e vilas militares foram conectados a emissários, que levam os resíduos diretamente à ETE. A última etapa destas ligações foi a substituição do antigo emissário que corta a área da EsPCEx, realizado no mês de junho de 2023. Desta forma, os cursos d’água da fazenda Chapadão e Escola ficaram livres do lançamento de esgotos e voltaram a ter água de excelente qualidade.
Aspectos históricos do saneamento da fazenda Chapadão e EsPCEx
De acordo com um relatório de estudo da 2ª Região Militar (2ª RM), de janeiro de 1969, o projeto inicial de instalação da 2ª Divisão Motomecanizada (com o fim da 2ª Guerra Mundial, este projeto não foi finalizado), em 1942, previa a construção de uma estação para coleta de esgoto produzido pelo Exército. A estação foi construída junto ao córrego Boa Vista, na divisa com as terras do Horto Florestal, de propriedade do estado de São Paulo, no local em que hoje se situa a interseção das rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Naquela época, a fazenda Chapadão estava “praticamente fora do perímetro urbano” de Campinas. Devido aos altos custos da infraestrutura para obter a água potável a partir da rede pública, optou-se pela captação de água no córrego Boa Vista, a montante da estação coletora de esgoto.
Em 18 de janeiro de 1961, a Companhia Sonda S/A – Indústria e Comércio de Óleos, situada no km 103 da rodovia Anhanguera, e o Comandante do 1º Batalhão de Carros de Combate Leve (1º BCCL) firmaram um contrato em que ficava autorizada a instalação de um motor de cinco HP na rede elétrica do quartel, para captação de água, no córrego Boa Vista. Em contrapartida, a empresa se comprometeu a melhorar o sistema de captação de água do córrego para abastecimento do 1º BCCL e a construir um tanque de cimento no local, além de não jogar resíduos industriais a montante do sistema de captação.
Em 1964, a Prefeitura Municipal de Campinas (PMC) solicitou autorização ao Exército para utilização estação de coleta de esgoto, bem como a passagem de um emissário em sentido longitudinal à Fazenda Chapadão, em face do aumento da área urbana. A solicitação foi atendida. Em troca, a PMC comprometeu-se a realizar serviços de manutenção na rede hidráulica e de esgoto do 1º BCCL e do 5º Grupo de Canhões (1º G Can), além de ligar a rede hidráulica dos quartéis à rede pública.
Entretanto, até 1969 a PMC ainda não havia ligado a rede hidráulica dos quartéis à rede pública. Mais ainda, para surpresa da Administração Militar, informou que pretendia construir uma nova estação de coleta de esgoto no Córrego Boa Vista, a montante da estação de captação de água, o que iria comprometer o serviço de captação de água do Exército. Naquela época, Administração Militar já percebia que o crescimento do Bairro Boa Vista iria comprometer a estação de captação de água, pois as nascentes do Córrego ficavam no Bairro e, caso a PMC não fizesse a ligação de água potável, o Exército mesmo teria que arcar com os custos da ligação à rede pública, em função dos esgotos do Bairro Boa Vista. Neste mesmo relatório verifica-se a indignação da Administração Militar com o fato de o emissário que corta a Fazenda Chapadão longitudinalmente não ter passado do outro lado da Estrada dos Amarais, em terras da Fazenda Santa Elisa, patrimônio do Estado de São Paulo e caminho natural da microbacia. Do mesmo modo, o emissário do Córrego Boa Vista poderia ter passado em terras do Horto Florestal, também patrimônio do Estado de São Paulo.
Com ofício 181/69-SPR/2, de 23 de junho de 1969, o Comandante da 2ª RM, solicita ao Prefeito Municipal a construção de uma nova estação depuradora de esgoto, além da construção de uma rede de água pluviais e de água potável, nos quartéis do 1º BCCL e do 5º G Can 90 AAé, além da ligação da rede de esgoto da EsPCEx ao ramo do emissário sob sua área de responsabilidade. Em troca, autorizaria a construção de uma tubulação de esgoto para resolver o problema do esgoto municipal. Entretanto, assinala o fato de a prefeitura não estar cumprindo a sua parte, conforme compromisso assumido com ofício nº 187-SPR/2, de 28 de junho de 1965, à Prefeitura Municipal.
Ainda com ofício 187/64-SPR/2, de 29 de julho de 1969, o Comandante da 2º RM alerta o Prefeito Municipal quanto ao lançamento de esgoto do Bairro Boa Vista em estação depuradora do Exército, sem autorização da 2ª RM. No mesmo documento o Comandante da 2ª RM concorda com a homologação da rede de esgoto, caso a Prefeitura de Campinas faça a ligação dos esgotos da Vila dos Sargentos e construa outra estação de depuração de esgoto na área da Fazenda Chapadão.
Na década de oitenta, o CMC realizava a tradicional competição de natação chamada Travessia do Lago, porém a má qualidade da água foi um dos motivos que levou, em pouco tempo, ao fim da competição. Já era público que o emissário, que capta o esgoto do alto do bairro Castelo, atravessa a EsPCEx e passa ao lado do Lago, eventualmente, tinha entupimentos e o esgoto estava contaminando as águas do Lago.
Este mesmo emissário, que passa ao lado do Lago do CMC, conforme descrito acima, não segue o curso natural do córrego da Lagoa e é desviado para o ribeirão Quilombo, passando nos fundos da 2ª Companhia de Comunicações, em área da fazenda Chapadão. Neste quartel, nas décadas de oitenta e noventa, os alojamentos possuíam mosquiteiros, pois, era impossível dormir devido à grande quantidade de mosquitos, além dos riscos de contaminação por doenças transmitidas por este vetor.
Nos anos de 1998 e 1999, com a construção dos lagos da EsPCEx, a concessionária de água e esgoto de Campinas (Sanasa), desviou parte do emissário, para que não ficasse sob um dos lagos, porém não resolveu os problemas de entupimento e contaminação das águas do córrego da Lagoa. O emissário havia sido construído com manilhas de 100 mm, que não suportavam a demanda do alto do bairro Castelo.
Em 2001, a EsPCEx recebeu um ofício da Sanasa, para fins de autorização de levantamento topográfico e substituição deste emissário, além da construção de estação elevatória, para fins de tratamento do esgoto. Naquela época, o município de Campinas tratava, aproximadamente, 5% do esgoto produzido e a falta de água potável, em decorrência da concentração de esgotos, poderia provocar um colapso de abastecimento de água, não somente em Campinas, mas em toda a região Metropolitana.
Em 2002, a Escola enfrentava dificuldades em pagar as contas de água, devido a restrições financeiras e ao aumento dos valores cobrados. Neste contexto, o Comandante da EsPCEx convidou o presidente da Sanasa para negociar os valores atrasados e obter algum desconto nas contas futuras. O Presidente da Sanasa tomou em considerção a passagem do emissário pela área da Escola, os constantes entupimentos e poluição dos lagos, consciente de que o emissário já não atendia à demanda de esgoto produzido pelo alto do bairro Castelo. Assim sendo, cancelou os débitos antigos e concedeu um desconto de 50% na conta do principal medidor de água da Escola.
Passados quase 20 anos, em 2016, a Sanasa, iniciou a construção da Estação Produtora de Água de Reuso (EPAR) Boa Vista, no córrego de mesmo nome, a jusante da fazenda Chapadão, nas margens da rodovia Dom Pedro I, que além do tratamento de esgoto dos bairros vizinhos e da fazenda Chapadão, produziria água de reuso, com grau de pureza de 99%. Foram investidos mais de sessenta e oito milhões de reais, que beneficiaria uma população de 55.134 pessoas em 30 bairros de Campinas.
Em 2021, com a inauguração da EPAR Boa Vista, Campinas atingiu o índice de 100% de capacidade de tratamento de esgoto, porém faltava as interligações, dos emissários, dentre eles, do esgoto que passa pela fazenda Chapadão, além da substituição do emissário que passa em área da EsPCEx.
Em maio de 2023, a Sanasa iniciou a construção da última etapa das interligações dos quartéis e vilas militares da fazenda Chapadão. No novo emissário da EsPCEx, as tubulações de PVC de 315 mm substituíram as antigas manilhas de barro, de 100 mm. No mês de junho de 2023, foi realizada a instalação dos últimos tubos e conexões dos pontos de verificação (PV), conforme pode ser verificado nas fotos abaixo:

Colocação de tubulação próximo à Av. Getúlio Vargas, em 04 Jun 23
Fonte: Acervo próprio

Colocação dos pontos de verificação (PV) na área da EsPCEx, em 04 Jun 23
Fonte: Acervo Próprio
Conclusão
Com a finalização da obra de substituição do emissário da EsPCEx e a construção da EPAR Boa Vista, resolveu-se um antigo problema de saneamento (aproximadamente, oitenta anos), não somente da Escola, mas da fazenda Chapadão e do Município. Campinas tornou-se a primeira cidade brasileira com mais de um milhão de habitantes a ter capacidade instalada para tratamento de 100% do esgoto produzido. De acordo com a ONU, para cada centavo investido em saneamento, quatro centavos são economizados em gastos com a saúde. Os cursos d’água da fazenda Chapadão voltaram a ter água de qualidade e passamos de um estado de degradação para um exemplo a ser seguido.
O emissário de esgoto da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), no contexto histórico ambiental da fazenda Chapadão
Osmar da Rosa Rabelo – Major R1 QCO
A pesca recreativa na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) – um exemplo de gestão sustentável de seus recursos naturais.
Osmar da Rosa Rabelo – Major R1 QCO
Introdução
A EsPCEx conta em sua área com três lagos, nas coordenadas geográficas abaixo apresentadas:
1º Lago (6.113,56 metros quadrados): latitude 286855 S, longitude 467937 W; 2º Lago (5.075,00 metros quadrados), latitude 286803 S, longitude 468133 W, e 3º Lago (4.849,94 metros quadrados), próximo ao Círculo Militar de Campinas, latitude 286656, longitude 468366 W, totalizando 16.036,50 metros quadrados de superfície de água, conforme medidas realizadas em agosto de 2006 e constantes do Plano Diretor de Regularização Ambiental da EsPCEx, autorização nº 1760/07, do Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais (DEPRN).
O Clube da Pesca da EsPCEx (CPEs), oficializado no Boletim Interno nº 152, de 15 de agosto de 2003, era um antigo anseio de alguns integrantes da Escola, principalmente dos moradores das vilas militares, que viam nos lagos da Escola uma possibilidade de lazer. Antes mesmo da construção dos lagos, o Taifeiro Adailton Pereira, in memorian, já pescava, de peneira, alguns lambaris no Córrego da Lagoa. Com a construção dos lagos, algumas espécies como a Tilápia, Pacu e Tambaqui foram introduzidas nos lagos. Certa vez, um dos moradores trouxe alguns bagres africanos e, ao invés de comê-los, preferiu soltá-los nos lagos porque ainda estavam vivos, quando chegou do pesqueiro.
Havia um potencial ambiental a ser explorado e para isso eram necessárias regras que assegurassem o uso seguro e sustentável dos lagos.
A construção dos lagos da ESPCEx
A construção dos lagos teve início em 1994 e durou cinco anos. Naquela época, o então TC Ciro Della Nina da Silva era o Chefe da Divisão Administrativa da EsPCEx e foi o responsável pela iniciativa. Lembra o Coronel Ciro que certa vez foi despachar com o então Coronel Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Comandante da Escola, e disse, “eu gostaria de fazer” e o General Heleno respondeu “está autorizado”.
Depois da construção, os lagos receberam os nomes de Fortaleza, São Paulo e Porto Alegre, de montante a jusante, respectivamente, em homenagem às cidades sedes das antigas Escolas Preparatórias do Exército.
O primeiro lago construído foi o Porto Alegre, junto à Av. Getúlio Vargas. Naquela época, já havia sido construído o alambrado separando a Avenida da Escola. Na parte mais próxima ao córrego da Lagoa, ficou uma abertura porque se tratava de um charco e não havia como construir o alambrado.
Por acaso, certo dia o Coronel Ciro encontrou-se com o engenheiro responsável pela demolição de uma quadra de casas, no bairro Bonfim, onde seria construída uma grande concessionária de automóveis da Fiat. Neste encontro, o Coronel Ciro falou sobre a necessidade de fazer um aterro para concluir o cercamento da Escola e a proposta foi prontamente aceita pelo engenheiro, porque o local era próximo e facilitava o escoamento de uma grande quantidade de entulho.
O negócio foi bom para os dois lados, porque os custos para a empresa foram baixos e a EsPCEx, além do cercamento, ganharia um lago, pois, a quantidade de entulho era suficiente para fazer a barragem. Todo este material, estabilizou o solo, eliminou o charco existente e deu uma boa sustentabilidade à barragem, suficiente para suportar o escoamento de água da microbacia, que se forma a partir do alto do bairro Castelo. Todavia, as nascentes existentes no local foram estancadas, diminuindo o fluxo de água do córrego da Lagoa. Anos mais tarde, por volta de 2005, foi aberta uma valeta, próximo a barragem para eliminar algumas possas de água que ficavam junto ao alambrado, porque não havia sistema de drenagem e a água parada dificultava a passagem de viaturas, além de se tornarem focos do mosquito da dengue. Nesta ocasião, durante a escavação, com uma máquina retroescavadeira, pôde-se verificar a pressão que o entulho fazia sobre as nascentes, pois, chegou a formar um chafariz, quando a máquina atingiu uma veia de água estancada pelo aterro.
A construção do lago São Paulo (lago do meio), também foi por acaso e nasceu de uma conversa do Coronel Ciro com o dono de uma empresa de terraplenagem. No local da construção já havia um pequeno lago, pois, a estrada que liga a Escola à vila Raposo Tavares (vila dos Capitães/Tenentes) passava pelo córrego da Lagoa e tinha um pequeno talude. Provavelmente, esta barragem foi feita para armazenar/captar água para as plantações e granja que havia dentro da EsPCEx, até a década de setenta e mantida pelo Ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), major Beraldo. Com o trabalho de máquinas retroescavadeiras, foi realizado o desassoreamento e alargamento do pequeno lago, para que ficasse nas proporções atuais. Ambos os trabalhos foram executados de forma gratuita e contaram apenas com a habilidade do Coronel Ciro para viabilizar a negociação, que muitas vezes tinham como contrapartida um diploma de Amigo da Escola. Cabe ressaltar que, naquela época, os recursos orçamentários da EsPCEx nem sempre eram suficientes para realizar melhorias no patrimônio e algumas obras somente eram realizadas com o apoio da iniciativa privada.
O último lago a ser construído foi o Fortaleza e deu mais trabalho, porque parte do emissário que vem do alto do Bairro Castelo passava pelo local e precisava ser desviado para a lateral da estrada. A desativação do emissário, que ficaria dentro do lago e a construção de um novo trecho, junto à estrada lateral foi executado com o apoio da Prefeitura Municipal de Campinas, que cedeu gratuitamente homens, máquinas e quase todo o material necessário. Após a remoção do emissário, mais uma vez, o Coronel Ciro negociou com a iniciativa privada a construção do lago. Deste negócio, também resultou uma grande amizade e, por vários anos, sempre que havia alguma comemoração na Divisão Administrativa, era doado um carneiro pelo dono da empresa de terraplenagem. Infelizmente, durante a construção, o desvio da água, feito de forma precária e com a utilização de areia, levou ao rompimento da barragem, no dia da formatura dos alunos, devido às fortes chuvas. Porém, os reparos necessários foram feitos e até o ano de 1999, as três barragens estavam concluídas.
Nesta época, já se iniciou a soltura de peixes nos lagos, o que mais tarde levaria ao desenvolvimento da pesca recreativa na EsPCEx. Com o apoio do comandante do 2º Regimento de Carros de Combate (2º RCC), em Pirassununga, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Aquática Continental (CEPTA) doou diversas espécies de peixes.
A criação do Clube da Pesca da EsPCEx (CPEs)
Com a implantação do Programa Ambiental da EsPCEx, em 2002, surgiu a oportunidade de desenvolver algumas atividades voltadas para a pesca recreativa e, em 2003, foi criado o CPEs, dando-se início a diversas atividades, tais como: levantamento das características dos lagos (batimetria), análise da qualidade da água e dos peixes – para verificar a possibilidade de consumo, eventos de pesca recreativa, etc.
Embora a atividade de pesca não tivesse sido contemplada no Programa Ambiental EsPCEx/2002, foi uma oportunidade de incentivar os integrantes da Escola e, principalmente os moradores das Vilas Militares, à preservação do meio ambiente. As atividades desenvolvidas junto aos lagos tinham como premissas a destinação correta do lixo, o cuidado com as árvores plantadas e o uso sustentável dos recursos ambientais.
A Ata da Assembleia Geral de Constituição (anexo 01), aprovação do Estatuto Social e Eleição da Diretoria do CPEs, foi realizada no dia dezesseis de maio de dois mil e três, às dez horas, no Auditório Menna Barreto, na EsPCEx. O 1º Sargento José Antonio Rodrigues foi eleito por unanimidade para presidir o CPEs, por um período de dois anos.
De acordo com a Ordem de Serviço 01-CPEs, de 04 de junho, de 2003 (anexo 02), foi inaugurada a sede do CPEs, no dia 18 de julho de 2003, segundo a programação abaixo:

Participantes: Diretoria do CPEs; Comandante e Subcomandante da Escola, Comandante do CA e S4 do CA; Chefe da DA e Fiscal Administrativo; Chefe da DE e representantes do meio civil.
Também foi realizada a leitura da ata de constituição da Assembleia Geral, aprovação do estatuto social e eleição da diretoria do CPEs, além da apresentação da Diretoria e uso da palavra pelo Presidente do CPEs e pelo Comandante da Escola, conforme fotos 01 e 02 abaixo:

Foto 01 – Palavras do Presidente do CPEs, JOSÉ Antonio Rodrigues
Fonte: acervo próprio

Foto 02 – Palavras do Comandante da EsPCEx, TC Décio Luís Schons
Fonte: acervo próprio
Para a sede do CPEs, foi utilizado um antigo depósito de material esportivo da Seção de Educação Física da Escola, que ficava próximo ao lago Fortaleza. Embora de dimensões reduzidas, era suficiente para guardar a documentação e o material do Clube. Todavia, para a realização da inauguração da sede foram improvisadas algumas barracas e uma churrasqueira, conforme fotos 03, 04 e 05, abaixo.

Foto 03 – Sede do CPEs, ao fundo
Fonte: acervo pessoal

Foto 04 – Barraca improvisada
Fonte: acervo pessoal

Foto 05 - Churrasqueira
Fonte: acervo pessoal
A qualidade da água dos lagos da EsPCEx
Em 2004, a EsPCEx solicitou ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Aquática Continental (CEPTA) a análise da água dos lagos da Escola, a fim de levantar a situação e verificar a possibilidade de utilização dos lagos para fins de pesca recreativa e piscicultura extensiva. Naquela oportunidade, contamos com o apoio do pesquisador científico José Roberto Miranda, da Embrapa, que coordenou a primeira visita ao CEPTA, em Pirassugunga-SP. Lá fomos recebidos pelo Pesquisador Laerte Batista de Oliveira Alves, Diretor do CEPTA e referência na aquicultura brasileira (fotos 06 e 07), abaixo.

Foto 06 – Visita ao CEPTA, Pirassununga-SP, 2004, da esquerda para a direita, Diretor do CEPTA , Dr. Laerte, TC Seródio, Dr. Miranda e Capitão Rabelo
Fonte: acervo pessoal

Foto 07 – Visita ao laboratório de pesquisa do CEPTA, Pirassununga-SP, 2004
Fonte: acervo pessoal
Após coletarem amostras de água para análise das variáveis alcalinidade, dureza, íon amônio e íon amônia, chegou-se aos resultados tabela abaixo:

Alguns comentários, quanto aos dados acima chamam a atenção: o oxigênio dissolvido apresenta níveis ótimos, o PH foi considerado ótimo. Entretanto, a condutividade elétrica corresponde à forte entrada de materiais em seu entorno, com valores maiores no lago Fortaleza, podendo denunciar a entrada de efluentes, que influenciam na qualidade da água. No entanto, a matéria orgânica permite a produção de fitoplâncton, que forma a base da cadeia alimentar de toda a fauna.
A alcalinidade dos lagos encontra-se em uma faixa ótima e os valores dos íons amônio e de amônia foram considerados baixos, não apresentando riscos para a criação de peixes.
O levantamento do perfil dos lagos (batimetria)
No dia 02 de outubro de 2004, o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (CEPTA) realizou um relatório técnico dos lagos da EsPCEx. Foi analisado o perfil batimétrico dos três lagos e suas respectivas curvas de nível, por meio de dados coletados pela própria Escola, que serviram de base para o cálculo da quantidade ideal de peixes a ser introduzida e o acompanhamento dos níveis de assoreamento dos lagos.
Por alguns meses, o então Taifeiro Adailton e o 1º Sgt Rodrigues fizeram as medições dos lagos: foram necessários um barco, emprestado do Círculo Militar de Campinas, uma corda, para medir a distância, de uma margem à outra, de dois em dois metros e uma outra corda, com um peso na ponta, para medir a profundidade, também de dois em dois metros, de forma a constituir quadrantes tridimensionais, que no final daria uma base de dados suficiente para análise e propostas do CEPTA.
Resultaram deste trabalhos as figuras abaixo, com os perfis superficiais e laterais dos lagos Fortaleza, São Paulo e Porto Alegre, conforme figuras de 01 a 06, respectivamente.

Figura 01 – Perfil superficial do lago Fortaleza
Fonte: acervo pessoal

Figura 02 – Perfil lateral do lago Fortaleza
Fonte: acervo pessoal

Figura 03 - Perfil superficial do lago São Paulo
Fonte: acervo pessoal

Figura 04- Perfil lateral do lago São Paulo
Fonte: acervo pessoal

Figura 05 – Perfil superficial do lago Porto Alegre
Fonte: acervo pessoal

Figura 06 – Perfil lateral do lago Porto Alegre
Fonte: acervo pessoal
Com base nos dados acima, o CEPTA analisou os três lagos e, de acordo o relatório apresentado, concluiu que a quantidade de peixes existentes nos lagos estava bem abaixo da sua capacidade, recomendando-se a introdução de novas espécies. Quanto a novos peixamentos foram sugeridas as espécies Matrinxã (Brycon cephalus) e espécies de Leporinus sp (Piapara e/ou Piau), considerando-se que nos lagos já existiam Tilápias e Curimbatás.
Com base nesse Relatório, foram introduzidas diversas espécies de peixes, principalmente da Usina Hidrelétrica de Furnas, dez mil alevinos e juvenis, diversas espécies (ofício s/nº, de 23 de agosto de 2005, Departamento de Produção Minas), do Pesqueiro Recanto do Pescador, mil Piauçu e dois mil Patinga, além de outros, totalizando aproximadamente, trinta e oito mil unidades.
Análise microbiológica dos peixes dos lagos
A análise foi realizada em 02 de dezembro de 2002, com peixes coletados nos lagos Fortaleza e São Paulo, pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas (ITAL) e constatou a presença de coliformes, conforme tabela abaixo[1]:

[1] A metodologia utilizada foi a Vanderzant, C., Sprittstoesser, D.F. Compendium of methods for the microbiological examination of foods, 3. Ed. Washington: American Public Herth Association, 1992, 1219p.
De acordo com os dados acima e a orientação do ITAL, foi recomendado o consumo dos peixes, exceto na forma in natura, que poderia causar algum desconforto intestinal ou diarreia, devido à presença de coliformes.
Eventos de pesca recreativa
Desde a criação do CPEs, foram realizados diversos eventos, em um total de nove, durante os anos de 2003 a 2007, com a participação de civis, militares da EsPCEx e convidados, tudo sob o controle do presidente do Clube e sem nenhum tipo de acidente. Destacou-se a presença do Comandante da 11ª Brigada de Infantaria Blindada e do Comandante da Escola de Sargentos das Armas.
Antes de cada evento, havia uma criteriosa preparação (colocação de boias de segurança, delimitação dos locais de pesca, aquisição de brindes, tambores para lixo orgânico e reciclável etc.), além de um arrastão para a tradicional fritada, com os peixes dos lagos (foto 08).

Foto 08 – Arrastão 03/03/2005
Fonte: acervo pessoal
O Dia das Crianças e o Campeonato Infantil de Pesca foram oportunidades de conscientizar os jovens para os desafios de uma sociedade, que precisa aprender novos conceitos de sustentabilidade e de preservação do meio ambiente (foto 09). Nos campeonatos de pesca, eram premiados aquele que conseguia capturar a maior quantidade de peixes e aquele que pescava o exemplar de maior porte (foto 10).

Foto 09 – Campeonato Infantil de Pesca, 2005
Fonte: acervo pessoal